Gregório de Mattos

 Imagem: site O Nordeste




            “Eu sou aquele, que passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios, e enganos”

Gregório de Mattos e Guerra (1636-1695), poeta de muitos recursos,  é um dos artistas mais festejado na atualidade, talvez porque a sua veia crítica sócio-política  ainda tenha ressonância na sociedade brasileira. Detentor de uma escrita invejável. Seus poemas  passeiam pela sátira,  pela lírica religiosa, amorosa e filosófica, com  as marcas poéticas  acentuadas do período em que viveu – Barroco.  

Ressalte-se que a obra de gregoriana de cunho satírico,  erótico e escatológico transita sem cerimônia pelo universo da cultura popular, naturalmente, mesmo nas sátiras,  é impossível camuflar o exímio versejador que era. Não  há um único poema de  Gregório de Matos assinado; suas sátiras  apócrifas circulavam por mãos anônimas que pregavam seus versos em prédios públicos para ira dos poderosos da Bahia seiscentista. O corpus da obra de Gregório de Matos - somente no século XX ( 1968)  sob a chancela de James Amado -  veio a público.
 
Produção Literária:
Poesia lírica amorosa, filosófica   e  religiosa
Poesia satírica
Poesia  erótica e  escatológica
Lourdes  de Fátima Santos Pinto

 


1 - Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.

Se basta a voz irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história.

Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

2 - A cada canto um grande conselheiro,      
 Que nos quer governar cabana, e vinha,
 Não sabem governar sua cozinha,          
 E podem governar o mundo inteiro.        
                                         
 Em cada porta um freqüentado olheiro,    
 Que a vida do vizinho, e da vizinha      
 Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
 Para a levar à Praça, e ao Terreiro.     
                                         
 Muitos Mulatos desavergonhados,          
 Trazidos pelos pés os homens nobres,     
 Posta nas palmas toda a picardia.        
                                         
 Estupendas usuras nos mercados,          
 Todos, os que não furtam, muito pobres,
 E eis aqui a cidade da Bahia.   


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